A entrevista da semana é com a técnica Cristina Guimarães, maior especialista brasileira em saltos ornamentais. Comentarista da Tv Record, Cristina analisou a situação da modalidade hoje no Brasil
( foto de Ricardo Bufolin : Cristina Guimarães com os atletas Evelyn Winkler e Ubirajara Barbosa)
1- Conte um pouco da sua trajetória. Como chegou a técnica de saltos ornamentais? Há quanto tempo é treinadora?
Sou de uma familia de atletas e meus pais levaram as 4 filhas para as piscinas, pois foi em uma delas, no Rio de Janeiro que eles se conheceram. Comecei como atleta com o prof Giovani Casilo aos 9 anos, treinei com alguns técnicos, inclusive meu pai (João Gonçalves Filho). Em seguida entrei no curso de Educação Física na USP e comecei como estágiaria com o Prof Roberto Gonçalves que era o técnico principal ( hoje técnico do César Castro). Depois de formada, assumi o cargo de técnica de saltos onde trabalhei 22 anos.
2- Há anos, a modalidade no Brasil segue dependendo de resultados de Cesar Castro, Juliana Veloso, Hugo Parisi. Teremos nos próximos anos, substitutos para esses nomes?
Já temos conhecimento do problema de novos atletas de alto nível há vários anos. Mas mas não se esta conseguindo formar novos atletas que "brilhem" além do Brasil. Existem algumas esperanças, como a Andressa Mendes( 14 anos - APOE), as gemeas Nicole e Natali Cruz ( 19 anos - APOE), Pedro Abreu (18 anos - que é o primeiro saltador do Flamengo , ele era da Apoe).
Se esses atletas conseguirem se dedicar e chegar onde chegaram Cesar e Juliana, só o tempo dirá. Na minha opinião são os mais cotados
3- Quais as maiores dificuldades hoje para os saltos ornamentais no Brasil? Falta de locais para treinar, falta de divulgação da mídia, falta de tradição da modalidade no país?
Uma coisa que dificulta muito na minha opinião é o "custo" para se montar uma equipe. Trampolins só importados e cada um custa aproximadamente 5 mil dólares. Precisa de uma cama elástica grande, ginásio de treinamento e um técnico para no máximo 10 atletas ( lá fora geralmente os técnicos de atletas de alto nível trabalham com no máximo 4 saltadores). Quando você pensa "só" no custo de um profissional que para natação pode trabalhar com pelo menos o dobro de atletas, e todos os materiais básicos de treino podem ser adquiridos no Brasil, já percebe o que acontece.
4- E o problema da "tradição da modalidade"?
Como não existe muita tradição, as próprias crianças acabam não buscando esta modalidade, e muitos clubes que possuem instalações que seriam adequadas à prática dos saltos apenas liberam a utilização das plataformas como lazer, em horários específicos e apenas com salva vidas ou alguém tomando conta para evitar acidentes e não orientando a prática.
Mídia não sei se podemos dizer que é pequena, pois toda vez que se apresenta competição de qualquer nível de saltos o público prestigia, tanto em competiçoes nacionais, continentais ou mundiais. Se existe dificuldade é de se organizar a equipe para a transmissão do evento, mas o público de modo geral "adora" saltos, mesmo sem entender muito.
É um esporte que pela beleza desperta atenção e por um longo tempo as pessoas ficam assistindo, principalmente as provas de plataforma pela "altura" que o atleta realiza os saltos, mesmo se considerarmos que as provas de trampolim apresentam grau de dificuldade teoricamente mais alto porque o saltador tem menor altura para realizar o mesmo salto e ainda tem toda a coordenação envolvida no sincronismo atleta- trampolim.
O dia que mais crianças buscarem a prática conseguiremos aumentar o número de pessoas envolvidas na modalidade e com isso talvez consigamos também aumentar o número de atletas de alto nível.
5- Os pais que colocam filhos para treinar saltos ornamentais, ficam preocupados em relação ao esporte ser perigoso?
Normalmente quem tem esse receio nem permite que os filhos iniciem a prática. O que acontece muitas vezes é que as crianças vem "experimentar" e depois os pais com dúvidas vem conversar com os professores e temos que "ensiná-los" que assim como tudo na vida existem riscos. Mas que com orientação correta, atenção do praticante e a evolução consciente, o risco diminui bastante. Quanto maior a dificuldade do salto maior a chance de correr risco de "bater" na água ou passar perto do aparelho ( o ideal é que se mantenha por volta de 40 cm de distãncia do aparelho). Para os iniciantes a falta de atenção é o maior risco, pois como é divertido e estimulante saltar, as crianças as vezes se distraem e perdem o foco caindo do aparelho ou menos, caindo de forma incorreta na água.
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